sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Devaneios

Vários devaneios.
Quando eu era criança, acho que entre os 6 e 12 anos, íamos, meus pais, irmãos e eu, muito ao interior do estado de São Paulo. Costumávamos ir para alguns lugares, dentre eles Ribeirão Preto (pra ser mais preciso, São Simão, que era muito pequenininha na época). Ficávamos numa fazenda que antigamente tinha sido de cultivo e processamento de cana de açúcar. Quando estávamos na casa, eu e meu irmão nos juntávamos com o Kiko, que é filho de amigos de nossos pais, e saíamos pela fazenda Santa Clara a fazer várias coisas. E sempre que entrávamos na antiga usina de açúcar desativada eu ficava maravilhado.
Aquele lugar, até hoje, foi um dos lugares mais incríveis que eu já estive. Uma fábrica abandonada ao nosso dispor e livre exploração. Me lembro de entrar em um funil de metal imenso, escorregar até o centro. De subir em uma estrutura bem alta dentro do galpão e ver ninhos de aves. E também brincávamos muito num tanque enorme e cheio de divisões que se parecia muito a um labirinto - não tenho idéia para que serve isso.
Mas o dia que foi mais marcante foi quando estávamos passeando no entorno da usina, pelo matagal, e eu vi uma tampa de concreto, tapando um buraco grande de uma saída também de concreto, no meio do mato, entre as plantas. Fiquei muito curioso e tentei empurrar a tampa. Quando o Domício (meu irmão) e o Kiko decidiram ajudar, conseguimos arrastá-la.
O buraco era enorme, cabia uma pessoa de pé lá dentro (uma pessoa, nesse caso uma criança de 12 ou 13 anos), e o chão, as paredes, tudo, era preto, bem preto - (o que constatei depois que era uma camada de um palmo de fuligem no chão e na parede).
Entramos no buraco, que era uma espécie de túnel, com paredes de tijolos dispostas de forma abobadada.
No corredor, mais à frente, dava pra ver uma parte mais aberta, um pouco maior, de onde vinha uma suave claridade, logo a frente, numa bifurcação. Andamos até lá e vimos que era o lugar embaixo da chaminé da usina, que é bem alta e ficava um círculo aberto entrando o sol. E na parede tinha uma escadinha de ferro chumbada, que levava até o alto. Na hora eu pensei em subir por ela, e comecei. Meu irmão ficou bravo e tive que parar, ele falou que era perigoso e tal. E ouvimos um barulho muito forte, que se parecia com um chocalho de cascavel ou algo parecido. Vinha de um enorme buraco na parede, que ficava situado ao lado da escadinha, numa parte um pouco superior. Ficamos muito intrigados e eu decidi subir para ver o que era o barulho, porque não podia ser uma cascavel.
Quando olhei pelo buraco vi um filhote de coruja enorme, daquela Coruja-branca, ou Suindara, bem comum na região. O filhote fazia esse barulho para afungentar possíveis predadores, e era horrível, com um bico medonho. Mas muito interessante.

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