segunda-feira, janeiro 31, 2011

Depósito de palavras

Deposito neste depósito as palavras como uma cascata. Saindo pelos meus dedos sem passar pelo crivo da razão, como uma vazão de um rio que transborda em catarata sem tempo de pensar e repensar.

Muito do que se lê aqui é de meu inconsciente.

Se não tem sentido ou se está mal escrito é porque não há compromisso nenhum com nada. E que seja assim mesmo.

domingo, janeiro 30, 2011

俳句

"Boneca se aquece
com o meu chapéu de lã.
Eu visto saudades."

Teruko Oda

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Paz

Um pouco de paz para minha alma, finalmente.
Hora de lavar o rosto e olhar pra frente, deixar as coisas fluírem como espuma no oceano.
Agora estou com a cabeça no lugar e o coração descansado.

terça-feira, janeiro 25, 2011

Sol, calor e chuva

Dia de sol calor e chuva.
Uma hora de corrida, meia hora de chuva.
Lavando a alma e lavando a rua.

Leve de novo

Leve.

Depois do vendaval vem calmaria.

Calmaria.

Uma nau aguardando o vento para poder chegar em seu destino.

Como Tristão esperando Isolda.

Na tempestade e na calmaria.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

O estado das coisas

A confusão pode ser um estado de espírito permanente.

Perdido como está sempre estará.
Mesmo achando provisoriedade em tudo isso.

O provisório.

O tempo provisório.
O futuro provisório.
Mas antes de mais nada o presente provisório.

É o único que consegue ser.

O futuro pode ser pura rejeição.
O passado é inalterável.

Então o futuro nunca será provisório, mas definitivo.

A confusão é uma característica de mudança.

Contrabando

Há que se confundir tudo antes de perceber pelo lado de fora o que acontece com você mesmo.
Misturar todas as imagens e junto as sensações a elas presas.

Embaralha tudo na sua cabeça e olha de novo.
Olha de longe.
Vai ver que tem coisas que te desagradam.
Nem vai perceber futilidades e superfícies sobre isso tudo, mas precisamente essas pequenas coisas, essas futilidades, são as coisas que vão determinar o seu olhar sobre o todo.

Vai ver a beleza ou a feiúra de algum traço.
A gente se preocupa demais com isso.
Um olhar, um peito, um formato, uma boca.
É um peso morto de uma anatomia em decadência.
À beleza nos acostumamos, não se torna mais bonita se não houver nada por dentro fermentando.

Se parar e perceber de fato o que está passando
Verás que já passou há tempos,
E que só está prolongando uma despedida que já se deu.

Estás a tentar tampar um buraco com uma camada de rancor,
Tenta cobrir a beleza com seu ódio, criando uma camada desgostosa e horrenda do que um dia foi belo.
Isso pode funcionar para cobrir seu sentimento.

Mas seu amor foi para sempre contrabandeado. Levaram ele sem pagar o imposto devido. E para sempre restará um débito de contas mal calculadas.

domingo, janeiro 23, 2011

Ilha

Uma chuva intensa despenca do lado de fora. Estou ilhado em casa. Não dá pra sair nem pra chegar, a rua virou uma cachoeira. Assim como eu.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Ever

A High.

It's just the beer.

Or isn't?

I need to get up very early tomorrow.

Guerra Junqueiro

Um processo de extração mental,
Tirando um pensamento como se arranca um dente
Algo que está lá e não devia,
Um pensamento repetitivo,
Um pensamento recorrente e que não sai de lá de jeito nenhum,
Mas já está na hora de sair.

É bom deixar esvaziar.

O vazio é uma sensação ruim a qual tenho que me acostumar,
Pelo menos por um tempo.

Não quero preencher essas lacunas com nada,
Quero que elas se preencham com nada.

Ficarão cheias de nada.
O oco sem beiras.

Hoje fui comprar um livro de poesia para dar de presente,
Passei por milhares de títulos e autores,
Acabei comprando um e me arrependi,
Escolhi o livro errado.

Passei por Manuel Bandeira,
Muito derrotado,
Melancolia sem solução,
Embora seja um dos maiores poetas deste país,
É a poesia do que poderia ter sido e não foi,
Como sua vida,
Eternamente tísico, esperando a morte e vendo todos morrerem antes dele que estava condenado desde a adolescência.

Passei por Juan Gelman,
Argentino, poeta da safra de 1960, dos grandes,
Mas não dava pra dar um livro com aquele nome:
"Amor Quando Serena, Termina?"
Assustador.

Depois fui pra Guerra Junqueiro,
Grande poeta português,
Versos afiadíssimos,
Poética rítmica e ácida,
Seria incrível,
Mas entre todos os exemplares esgotados e sem novas edições
Havia um único,
Que não estava lá...
"acho que há algum erro no sistema... me dá o seu email e telefone, assim que souber te ligo pra informar..."

Passei por Fernando Pessoa,
Ninguém reclamaria em ganhar um Fernando Pessoa,
Porém não havia nenhum exemplar descente para presente,
A melhor capa tinha o pior conteúdo,
O melhor conteúdo estava desorganizado por um curador pretensioso, que pretendeu esconder os heterônimos e misturar os poemas para aproximar o leitor do autor.
Não, não dava pra dar esse livro.

E Pablo Neruda,
Apesar de todo o exagero sentimental, melodramático e descabido,
Ainda poderia ser uma opção,
O livro "Ainda (Aún)",
Mas não era bilíngue,
E um livro de poesia em espanhol que não é bilíngue não merece ser dado a ninguém,
Espanhol é um idioma tão próximo, tão parecido
Que o mínimo que se espera de um livro desses é que seja bilíngue,
Como era um outro livro dele que estava alí do lado,
Numa edição muito parecida,
"Veinte poemas de amor y una canción desesperada",
Esse sim bilíngue,
Mas esse já é muito cliché,
E muito cheio de mensagens entrelinhas.

Hilda Hist, poeta paulista,
Parecia bom,
Mas conheço pouco,
Como poderia dar pra alguém um livro que conheço tão pouco?

E dentre aqueles tantos títulos foi só frustração
Passei até por Maiakovski, poesia japonesa (Jisei - poesia da morte), Manyoushuu...
Como confiar em uma tradução do Russo, Japonês ou até Inglês?
Me surpreende eles não terem nunca Guerra Junqueiro...

Poesia é intraduzível.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Bandeira

Ah Manoel Bandeira,
Como eu não gosto,
De ver sua poesia ecoar em mim,
Eu naquela cama vazia,
A esperar o fim.

E apesar de tudo eu sei,
Poderia ser pior.
Sempre pode ser pior.

Como eu não gosto desse lirismo derrotista,
Dessa poesia derrotada,
De tudo o que poderia ser e que não é,
De novo.

Mas eu adoro Manuel Bandeira.

sábado, janeiro 15, 2011

Buenos dias señores

Mais uma semana passou.
Implacável.
Estamos entrando na terceira semana de 2011, o tempo não para de passar.
Ainda bem.

Só o tempo pode curar as nossas feridas.

Cada dia a mais é um dia a menos.
Mas a vida é longa, ainda bem.

Cada dia a mais é um dia sem, ou um dia com, que ainda está por vir.
E a gente espera,
E espera,
E espera.

O que eu quero eu quase nem sei,
Mas eu sei.

Na verdade eu sei muito bem,
Sempre soube.

E está tudo lá,
Nos esperando.

Eu espero e espero e espero.
Pelo menos ainda tenho esperança.

A última que morre.
Morrerei antes dela.
Mas ainda tenho muitos anos pela frente.

Morrer de amor ninguém morre,
Só morre quem é besta.

terça-feira, janeiro 11, 2011

Limbo

Quatro dimensões, três de espaço e uma de tempo. E me perco em todas elas.
Vago pelo oceano das horas como um pequeno veleiro jogado de um lado para o outro, vendo as horas passando rapidamente.

Estou no limbo, naquele limbo onde ainda há volta, ainda dá pra puxar o freio de mão, jogar a âncora, voltar atrás e tirar da cabeça.

Mas não quero voltar atrás. Quero deixar como está, e que fique assim por enquanto.

Limbo é calmaria, precede a tempestade.

sábado, janeiro 08, 2011

καιρός

Como um frágil graveto que pode se quebrar,
Como o castelo de areia que é levado pelas ondas da maré alta.
A areia escorrendo na ampulheta.

As nuvens que estão sempre lá, mas nunca são as mesmas.
As aves migratórias, que estão em todo lugar, mas em lugar nenhum.
As pegadas na areia que se desmancham com o vento.

A chuva de verão que cai tão rápida e tão intensa,
E em poucos minutos inunda toda a cidade,
Como este desejo.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Over and over

Vontade de sair por aí pela noite, mas amanhã eu quero acordar cedo. Fazer o que tem que ser feito.

Olho pela janela mas não tem nada pra ver lá fora. Devia continuar minha leitura que estava boa. Ou sair para cuidar dos meus compromissos, fazer supermercado.

Pelo menos a casa está limpa. Lençóis trocados, chão varrido, tapete limpo. Cozinha limpa e banheiro limpo.

O céu também deve estar limpo, choveu tanto. Mas daqui onde estou não dá pra ver nem um cantinho de céu. Poderia subir na cobertura pra dar uma olhada. Mas não estou com paciência para subir sozinho. Melhor ficar aqui com meu violão.

Devia colocar no papel tudo o que tenho que fazer e começar a riscar quando terminar.
Devia fazer tantas coisas. Mas só faço uma: pensar... pensar e pensar.

Às vezes dá vontade de desligar a cabeça, ficar à deriva num mar de pensamentos alheios. Queria saber o que se passa na cabeça de outras pessoas, mas tenho certeza que me arrependeria depois.

E todas essas entrelinhas, que estão perdidas no papel. Que dizem muito mais que quero dizer. Que falam mais que a minha boca. As entrelinhas estão na cabeça de quem lê.

segunda-feira, janeiro 03, 2011

De volta

A virada de ano foi um descarrego, revirado até o fundo. Começou com uma viagem pra praia, com mar, corrida, sol, música. Comecei a tocar flauta transversal, toquei muito violão, corri na areia, nadei no mar a noite, no meio do escuro e no meio do mar, sob a luz das estrelas. Bebi na beira da praia até quase cair.

Depois meu corpo se transformou numa descarga de energia, comida e tudo o mais que eu ingerisse. Durante 4 dias seguidos não consegui comer nem reter líquidos. Perdi 2 kilos. Fiquei de cama, pensei muito. Pensei em milhares de coisas que aconteceram no ano passado. Pensei em milhares de coisas que estão por vir neste ano. Pensei em tudo o que ainda tenho que fazer nesse começo de ano. Pensei muito.

Parece que sou outra pessoa. Meu corpo se livrou de muita coisa. Minha mente também. Mas ainda tem coisas que quero muito tirar da minha cabeça e do meu coração. Esquecer o que precisa ser esquecido. Deixar o passado no passado e olhar para frente, deixar acontecer o que já está acontecendo sem o menor controle.

Deu pra entender que tenho que tomar muitas decisões. Que preciso tomar muito cuidado também. Cuidado com quem está comigo. E cuidado comigo mesmo.

Este ano as coisas devem acontecer de forma menos atropelada que no ano passado. Não é uma resolução de ano novo, mas até o finalzinho do ano passado eu me despedi de algumas coisas que quero que fiquem por lá.

Quero ver semear as sementes que foram plantadas no ano passado. Os filmes. Os projetos e as idéias. Quero ver florecer.

Hoje é meu último dia de férias. Foram curtas, intensas e importantes essas férias. Eu estava precisando muito. Ainda preciso mais um pouco, mas há muito trabalho a ser feito, então não tenho escolha.

Preciso reestruturar a minha vida. Comecei arrumando minha casa, arrumando meu corpo. Arrumando meus horários. Arrumando meus costumes.

Agora vamos ver o que vai acontecer. E o que eu vou fazer acontecer, pois não sou um espectador passivo da minha vida.