segunda-feira, janeiro 30, 2006

carcaça

Aqui nossas vidas se separam,
Eu sou a carne e você é a caça,
E como ramos de uma árvore morta
Eu sigo cego e seco prum fogo
Que alimenta minha estranha tristeza,
E me consome até que você me esqueça.

Já se passou mais um dia,
Atravessei mais uma noite,
Sem ouvir sua voz,
Sem sentir o seu cheiro,
Sem tocar seu olhar
E sem beijar o seu beijo.

Aqui a minha vida se divide
Eu sou a vontade e você é a graça,
E como fotos que aos poucos se apagam
Me despeço disperso e sem mágoas,
Do meu corpo resta apenas o esboço,
Da minha alma um caricato rascunho.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Vazia Jornada

Quando eu me for
E o silêncio me abraçar
Quero que o mundo me esqueça,
Me apague da Terra,
Me deixe voltar
Ao que antes eu era.

Quando eu me for
Se alguém sentir minha falta,
Não quero frases
Nem homenagens,
Não quero lágrimas
Nem piedades.

Quando eu me for
Não quero nenhuma flor,
Não quero ser enterrado,
Em uma caixa trancado,
Eu quero ser libertado,
Quero ser esquartejado.

Não quero lapide,
Nem rosas decepadas,
Nem quero noites veladas,
Eu quero o nada,
Vazia jornada.

Que desça do céu azul
Um grande e imponente urubu,
Devore as minhas entranhas
E voe até as montanhas,
Deixe a minha carcaça
Sozinha no meio da praça.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Srta. Metafisica

Las palabras, las instancias,
Mi pregunta,
Tu distancia.
El miedo de lo desconocido,
Miedo de un raro camino.

Para que tu me oigas
En tu lejanía
No me basta el grito,
Ni siquiera el llanto,
Más se parece con juego
Las palabras que encantan
Y la encendida curiosidad
Me encierra en silencio.

No sé si existe de hecho,
No sé porque quiero oírte,
No tengo mas miedo de nada,
Ni tengo miedo de nadie.
Sólo quiero oír,
Sólo por un instante,
Un corto momento.
Sólo quiero el sueño,
Sin miedo del miedo que tengas,
Sin miedo de nada,
Sin miedo de nunca,
Sólo quiero el sueño.

Cambiar metafísica en física,
Sin hesitar.
Cansado de fantasía,
Cansado de máscara,
Estoy acá encerrado,
Más allá del deseo y del acto,
Sin olvidar.




16 de Dezembro de 2004

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Meio Bossa nova e Rock'n roll

Tomaria uma cerveja com você
E choraria as mazelas da vida,
Como foi cruel comigo
E como foi com você,
Meu amigo,
Essa vida

Assim assim,
Meio Bossa nova e Rock'n roll

E todas as dores que me culpa,
E todos os horrores do amor,
E tudo o que não foi,
E tudo o que poderia ter sido.
Enfim,
Valeu a pena
E mesmo com tantas dores
Também existem cores.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Lisérgia

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Duas gotas de insânia
São o suficiente,
Me levam pra Lisérgia,
Belo país no Oriente.

Lisérgia dos loucos varridos,
A terra dos questionamentos,
A água dos contentamentos,
A erva dos fortes fluídos.

Me perco sem nem movimento,
Longos dias passados ao vento,
No moinho da perda de tempo.

Descanso do eterno descaso
Da criança que nunca se encanta,
Onde o velho é novo de novo.

Minha Janela

Do mal em ver a cidade se contorcendo dia após noite.

" - No quarto, ao lado da cama, preso num pequeno espaço, sem opção de fuga. Nesta jaula, não posso tocar meu violão, não posso falar alto, não posso rir nem chorar. Tenho apenas minha janela.
Ruídos temperados de imagens isoladas, que ecoam na aspereza dos alarmes, sirenes, cercas elétricas, cacos de vidro, paredes blindadas, espingarda, concreto e asfalto.
Só tenho minha janela. Contemplando-a passo meus momentos de inspiração. Por isso escrevo de forma doentia, por isso não tenho leveza,
Como a leveza da criatura da noite, que flutua acordada pela madrugada.
Minha prisão,
Meu lamento.

Qual é este lamento
Que por anos sustento?
Quais questões me pertencem?

O quê justifica o sangue que escorre na esquina?"

Neste momento ele levanta seu corpo estático e contempla a vista novamente. Ouve ecoar nas paredes dos edifícios o som de um morcego que desloca-se pelas ruas e avenidas da cidade.

O sanguessuga plana sobre teu dormitório,
Ele acorda nesta noite refrescante de verão,
Irrompe no monumento de pedras, a colméia,
Sedento.
Suas entranhas imploram por sangue. Sangue morno.
Ele voa sobre o emaranhado do sistema.
Sua sede não é saciada com pouco,
É uma luta contínua de vida,
Noite após dia,
Tenta sugar o mais denso leite vermelho,
O mais amargo,
O mais promíscuo,
O MAIS VIL!

Voamos juntos,
Percorremos os mais escuros becos,
Conhecemos o antro mais sujo da cidade,
A saída do esgoto,
A moradia dos ratos prometidos,
Engordando e mutiplicando-se para a noite apocalíptica, no dia de ser a praga.

Somos uma parte necrosada da imensa criatura.
Nós somos apenas um fardo em seu crescimento.
Somos o câncer desta imensa massa disforme.

" - Que tortos caminhos me carregam?
(Pra onde vou, assim com pressa?)
(Pra onde vai toda essa pressa?)

Só espero mais um dia acabar,
Só espero o pôr do sol,
O descanso da alma,
Uma noite de sonhos.
Para em seguida outro dia nascer, assim sucessivamente.
Imploro por um pequeno sonho."

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Noite dos vencidos

Sombria e pálida impertinência
De sonhar em vão tal breve ausência,
De dentro do profundo inferno
Gemendo um defunto eterno
Explica-me a coincidência,
Eu peco a entender o mundo,
Eu perco todo o conteúdo,
Ao crer que tudo gira em torno
Do centro do meu podre umbigo.

Eu sinto que o padre eterno
A crer que vivo no inverno,
Dirá para cubrir meu corpo,
" - Esconda agora o seu pecado!"

Na noite dos vencidos sonharei contigo,
Não terei mais minha janela,
Não terei mais meu abrigo.
Na noite dos vencidos tentarei dormir,
Mas sei que não consigo,
Sei que então desperto
Estarei tão certo
Que o mal é antigo.

Então desperto
Deceparei a rosa do deserto,
Que cresce num cactus,
Em meio a espinhos,
Cercada de areia,
Sem água nem vinho,
Na última ceia.