sexta-feira, junho 26, 2009

Quando foi que fiquei assim?

Preciso de um dia de folga. Não sei mais quanto tempo faz que estou trabalhando todos os dias, sem excessão. Hoje é domingo, exatamente 1:30 da madrugada e estou editando um vídeo interminável. E o pior é que sei que, depois desse tenho outro para editar, um pouco mais simples. E depois desse outro tenho mais três outros, que não tem um prazo fixo (ainda).
Como é possível criar e ter idéias no meio disso tudo?
A boa notícia é que continuo tendo idéias e criando no meio disso tudo. Nem sei como, mas ainda estou conseguindo tocar alguns projetos pessoais paralelamente a esse redemoinho.
Mas estou bem cansado.

Quando criança eu nunca pensei que fosse trabalhar tanto. Achava que ia ter uma vida tranquila, pois era um cara que gostava muito de contemplar as coisas. Contemplava a natureza, a música, o movimento da cidade do alto da janela do meu quarto. Porque eu vivi a vida quase toda, até os 25 anos, num prédio na Vila Mariana, um bairro tranquilo de São Paulo (antes era bem mais tranquilo que hoje), e meu quarto ficava no 18 andar, com uma vista enorme, onde se via todo o parque do Ibirapuera, a Avenida Paulista com suas antenas ao longe, e no horizonte o Pico do Jaraguá. De lá muitas vezes eu ficava contemplando o movimento da cidade, como se eu não fizesse parte disso. Olhava tudo do alto, às vezes um sol rachando sobre o asfalto, os carros e as pessoas.
Vista de cima a cidade é muito calma, lenta, às vezes até silenciosa. É muito diferente olhar a cidade passivamente, calmamente, com a calma de quem não é ainda adulto, de quem não tem preocupações relacionadas a dinheiro, prazos, contas, taxas, impostos, contratos, etc.
Hoje eu moro numa avenida, num apartamento térreo, em que as janelas não dão para nenhum lugar senão para um estacionamento. Pago contas e tenho preocupações de adulto. Tenho contratos, empresa, pago taxas, impostos, abusos do governo. Trabalho com arte, uma arte que nem sempre é tão arte assim, mas é, de certa forma arte. Alguns trabalhos são realmente artísticos - nunca ganhei muito dinheiro com esses - outros não, e são os que pagam as contas.
Hoje eu vejo que ganhar dinheiro não é tão difícil como parecia, mas é exaustivo. Ainda bem que sou bem resistente e não me canso tão fácil.
Vou voltar a trabalhar, já se passou 10 minutos aqui escrevendo e assim não conseguirei terminar antes das 5.

sexta-feira, junho 19, 2009

Jim Morrison

"I see myself as an intelligent, sensitive human, with the soul of a clown which forces me to blow it at the most important moments."

"
It's like gambling somehow. You go out for a night of drinking and you don't know where your going to end up the next day. It could work out good or it could be disastrous. It's like the throw of the dice."


Ok, aqui então estão duas citações em inglês do Jim Morrison, as quais me identifico profundamente, mas muito mesmo.

terça-feira, junho 16, 2009

Cigarro

Sou alérgico a cigarro e tenho asma. Desde criança detesto que fumem perto de mim, porém nunca respeitaram essa minha decisão, tendo sido obrigado a suportar cigarro dentro de automóveis fechados, em casa, e até quando minha mãe estava grávida de mim. Com 5 anos, aproximadamente, cheguei a ter problemas por esconder o cigarro dos meus pais.

Quando surgiu o fumódromo, imediatamente pensei: uma primeira vitória - parecia algo bom.

Porém eu havia esquecido que meu pai, minha mãe, minhas avós e avôs, eram todos fumantes inveterados (meu pai chegava a fumar 5 maços por dia). Futuramente meus dois irmãos viriam fumar também (assim como quase todos os meus amigos).
Então, toda vez que eu saía para jantar fora, ou qualquer coisa que o valha, era obrigado a sentar na área de fumantes - novamente não tendo minha opinião e decisão respeitada: eu sempre fui minoria. E o que parecia uma vitória se transformou numa amarga derrota, até pior do que antes, pois a partir deste momento eu passei a frequentar lugares onde só tinham fumantes, onde estavam concentrados e dispostos a fumar até durante a minha refeição.

Em seguida, quando mais velho, não deixei de sair com meus pais e nem meus irmãos, e eles nunca respeitaram minha vontade de ter meu jantar livre de cigarro - fumantes, em geral, não costumam respeitar não fumantes, simplesmente desrespeitam como se fosse a coisa mais normal do mundo invadir a liberdade do outro que não quer se intoxicar. E ainda jogam suas imundas bitucas no chão como se fossem biodegradáveis.

Mais problemas tive quando comecei a ter uma vida social noturna. Tive que abandonar muitas festas antes da hora, deixei de conhecer muitas pessoas, pois a fumaça do ambiente não me permitia a permanência. E se fuma em todas as casas noturnas - sendo abertas ou fechadas e abafadas - não faz diferença, o fumante acende seu cigarro sem se importar com nada. E não há outra opção - quando o não fumante poderia procurar um lugar onde não se fuma, este lugar não existe. E se existisse amigos não iriam comigo, eu seria obrigado a ter apenas amigos não fumantes.

Apesar desta extrema exposição ao cigarro, durante muitos anos (quase 3 décadas), nunca consegui me acostumar, nunca deixei de passar mal com a fumaça. De nenhuma forma o problema amenizou.

Enfim, a minha qualidade de vida foi extremamente prejudicada em função do cigarro. Perdi muita coisa valiosa em minha vida por isso. Estragou momentos, companhias, jantares e tornou muita coisa que deveria ser boa em insuportável. Eu me sinto no direito de processar as empresas fabricantes de cigarro por conta dessa destruição de parte da minha vida.

Agora há uma lei que é uma esperança. É algo que sempre esperei, e que sempre achei necessário.
E é claro que a indústria de cigarro está tentando de todas as formas impedir que a lei entre em vigor: não há forma mais eficiente de se difundir o fumo que obrigando as pessoas a conviverem com a fumaça em ambientes fechados. Essas pessoas se viciam pelo cigarro dos outros, e passam também a fumar. Alguns passam a fumar para poder suportar estes ambientes.


Nota: achei engraçado ler em outro blog um post criticando a lei, dizendo algo como "até em teatros, quando se fuma em cena, será proibido..." - dizendo que isso é um absurdo. Que use cigarro cênico, que use a criatividade para superar isso. Por acaso as balas dos revólveres cênicos também são reais? As facadas encenadas perfuram realmente? As porradas? (bom, algumas porradas cênicas são reais mesmo...). Tenha a santa paciência.

sexta-feira, junho 05, 2009

Beirada

Outra noite tive um pesadelo, depois de tanto tempo sem ter um sonho que possa ser classificado como um pesadelo.
Interessante como o medo se desenvolve quando se está dormindo. Acordado eu sei que não há nada a temer.
São incertezas, e muita coisa, muita coisa.
E essas incertezas são assustadoras. Porém se fossem certezas mais assustador seria. Seria o fim.

A impressão mais forte que tive na minha vida foi quando, com uns 20 anos, pensei sobre milhares e milhares de coisas, tantas coisas, um abismo.
Antes disso tive sempre uma esperança de um dia entender todo aquele tamanho, as dimensões do mundo, do universo. Entender toda aquela realidade gigantesca e avassaladora deste mundo que nos engole.
Aos vinte anos eu perdi essa esperança. E tive essa sensação por alguns anos - talvez a sensação mais forte que já tenha tido na vida.
Desde pequeno o mundo me parecia um abismo. Profundidades abissais que se desenrolavam diante de meus olhos. Em todas as regras, ordens, possibilidades, meios de vida, culturas, idiomas, tamanhos, o infinito.
Até nos encontros, desencontros, amores e desamores.

E aqui está a beirada do infinito.
Basta olhar adiante, em qualquer destas letras, frases, regras e conjunções que esboçam este e qualquer texto, para qualquer lado que olhar, seja para o chão, seja então para o céu, lá está o infinito.
Cada letra carrega o infinito na sua origem.

Às vezes, dentro de casa, o infinito parece distante. O infinito parece colocado da porta pra fora, na imensidão do céu, das estrelas. Ou na imensidão do mar, que é uma imensidão mensurável embora não deixe de ser imensa.
E apesar de o imenso não ser infinito, diante do mar somos infinitos na nossa pequenitude.
Diante do céu.

Lembro que quando criança meu maior pesadelo, o pesadelo que eu tinha sempre ao dormir, o que voltava sempre, quase todo dia, era um pesadelo do infinito.
Lugar sem fim, onde eu pendia de um lado para outro, levado por forças infinitas, que se deslocavam como uma chama ou como água de um lado para outro. Era um lugar sem nenhuma luz, totalmente escuro, mas dava para ver o infinito.
Sempre dá pra ver o infinito. Não é preciso nem abrir os olhos. O infinito está lá.
O infinito reside nossas almas.
Estamos na beirada do infinito.