sexta-feira, junho 05, 2009

Beirada

Outra noite tive um pesadelo, depois de tanto tempo sem ter um sonho que possa ser classificado como um pesadelo.
Interessante como o medo se desenvolve quando se está dormindo. Acordado eu sei que não há nada a temer.
São incertezas, e muita coisa, muita coisa.
E essas incertezas são assustadoras. Porém se fossem certezas mais assustador seria. Seria o fim.

A impressão mais forte que tive na minha vida foi quando, com uns 20 anos, pensei sobre milhares e milhares de coisas, tantas coisas, um abismo.
Antes disso tive sempre uma esperança de um dia entender todo aquele tamanho, as dimensões do mundo, do universo. Entender toda aquela realidade gigantesca e avassaladora deste mundo que nos engole.
Aos vinte anos eu perdi essa esperança. E tive essa sensação por alguns anos - talvez a sensação mais forte que já tenha tido na vida.
Desde pequeno o mundo me parecia um abismo. Profundidades abissais que se desenrolavam diante de meus olhos. Em todas as regras, ordens, possibilidades, meios de vida, culturas, idiomas, tamanhos, o infinito.
Até nos encontros, desencontros, amores e desamores.

E aqui está a beirada do infinito.
Basta olhar adiante, em qualquer destas letras, frases, regras e conjunções que esboçam este e qualquer texto, para qualquer lado que olhar, seja para o chão, seja então para o céu, lá está o infinito.
Cada letra carrega o infinito na sua origem.

Às vezes, dentro de casa, o infinito parece distante. O infinito parece colocado da porta pra fora, na imensidão do céu, das estrelas. Ou na imensidão do mar, que é uma imensidão mensurável embora não deixe de ser imensa.
E apesar de o imenso não ser infinito, diante do mar somos infinitos na nossa pequenitude.
Diante do céu.

Lembro que quando criança meu maior pesadelo, o pesadelo que eu tinha sempre ao dormir, o que voltava sempre, quase todo dia, era um pesadelo do infinito.
Lugar sem fim, onde eu pendia de um lado para outro, levado por forças infinitas, que se deslocavam como uma chama ou como água de um lado para outro. Era um lugar sem nenhuma luz, totalmente escuro, mas dava para ver o infinito.
Sempre dá pra ver o infinito. Não é preciso nem abrir os olhos. O infinito está lá.
O infinito reside nossas almas.
Estamos na beirada do infinito.

Um comentário:

Adélia Jeveaux disse...

estamira certamente está.