sexta-feira, janeiro 21, 2011

Guerra Junqueiro

Um processo de extração mental,
Tirando um pensamento como se arranca um dente
Algo que está lá e não devia,
Um pensamento repetitivo,
Um pensamento recorrente e que não sai de lá de jeito nenhum,
Mas já está na hora de sair.

É bom deixar esvaziar.

O vazio é uma sensação ruim a qual tenho que me acostumar,
Pelo menos por um tempo.

Não quero preencher essas lacunas com nada,
Quero que elas se preencham com nada.

Ficarão cheias de nada.
O oco sem beiras.

Hoje fui comprar um livro de poesia para dar de presente,
Passei por milhares de títulos e autores,
Acabei comprando um e me arrependi,
Escolhi o livro errado.

Passei por Manuel Bandeira,
Muito derrotado,
Melancolia sem solução,
Embora seja um dos maiores poetas deste país,
É a poesia do que poderia ter sido e não foi,
Como sua vida,
Eternamente tísico, esperando a morte e vendo todos morrerem antes dele que estava condenado desde a adolescência.

Passei por Juan Gelman,
Argentino, poeta da safra de 1960, dos grandes,
Mas não dava pra dar um livro com aquele nome:
"Amor Quando Serena, Termina?"
Assustador.

Depois fui pra Guerra Junqueiro,
Grande poeta português,
Versos afiadíssimos,
Poética rítmica e ácida,
Seria incrível,
Mas entre todos os exemplares esgotados e sem novas edições
Havia um único,
Que não estava lá...
"acho que há algum erro no sistema... me dá o seu email e telefone, assim que souber te ligo pra informar..."

Passei por Fernando Pessoa,
Ninguém reclamaria em ganhar um Fernando Pessoa,
Porém não havia nenhum exemplar descente para presente,
A melhor capa tinha o pior conteúdo,
O melhor conteúdo estava desorganizado por um curador pretensioso, que pretendeu esconder os heterônimos e misturar os poemas para aproximar o leitor do autor.
Não, não dava pra dar esse livro.

E Pablo Neruda,
Apesar de todo o exagero sentimental, melodramático e descabido,
Ainda poderia ser uma opção,
O livro "Ainda (Aún)",
Mas não era bilíngue,
E um livro de poesia em espanhol que não é bilíngue não merece ser dado a ninguém,
Espanhol é um idioma tão próximo, tão parecido
Que o mínimo que se espera de um livro desses é que seja bilíngue,
Como era um outro livro dele que estava alí do lado,
Numa edição muito parecida,
"Veinte poemas de amor y una canción desesperada",
Esse sim bilíngue,
Mas esse já é muito cliché,
E muito cheio de mensagens entrelinhas.

Hilda Hist, poeta paulista,
Parecia bom,
Mas conheço pouco,
Como poderia dar pra alguém um livro que conheço tão pouco?

E dentre aqueles tantos títulos foi só frustração
Passei até por Maiakovski, poesia japonesa (Jisei - poesia da morte), Manyoushuu...
Como confiar em uma tradução do Russo, Japonês ou até Inglês?
Me surpreende eles não terem nunca Guerra Junqueiro...

Poesia é intraduzível.

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