sábado, abril 03, 2010

"Shutter Island"


Acabei de ver "Ilha do Medo", do Scorcese. Razoável. Não mais que isso. O filme é interessante, um roteiro bom, bem delineado, uma direção razoável, atores bons.
O destaque do filme é a atuação do Leonardo Di Caprio, o cara é muito bom, desde "Gilbert Grape, Aprendiz de Sonhador" já dava pra saber. Ele consegue atingir profundamente o personagem, se transforma completamente (apesar de não funcionar em qualquer filme, com qualquer diretor).

Os maiores defeitos do filme são o excesso e a superficialidade. Falta sutileza.

Logo no início do filme dá pra sentir, nos primeiros planos já temos uma atuação carregada do protagonista (Di Caprio - apesar de bom ator a direção não contribuiu). Em seguida começam os primeiros problemas técnicos de continuidade de cena, temos vários cortes "sujos", com mudanças no tom dos atores, mudanças nas posições, erros básicos de continuidade.
Me parece muito arrogante criticar a direção do Scorcese, mas eu senti tudo isso.

Na entrada da ilha temos excessos gigantescos da direção, temos um quase encavalamento temporal nas cenas da entrada do carro que os conduz dentro da ilha (o encavalamento se dá quando uma cena/plano tem mais de um início, que se repentem após o corte - é um erro de montagem, mas que só passa a existir por conivência da direção). Esses planos começam com uma filmagem em terra, mostrando o carro passar, em seguida dentro do carro, depois uma fimagem feita por um helicóptero, depois uma grua, depois uma câmera paralela ao carro, grua novamente, câmera alta, em seguida uma subjetiva do carro... enfim, a sensação que deu foi a de que o orçamento precisava ser justificado de alguma forma - parece que o diretor e o montador estavam extremamente inseguros e indecisos a ponto de não conseguir descartar nada do que tinha sido filmado para a "entrada triunfal" do filme - bem coisa de cinema Estadunidense.

Outro problema que me incomodou bastante foi o desenho de som, nesse caso uma questão puramente técnica, como em "Benjamin Button" eles pecaram em alguns detalhes, pequenos detalhes que ficaram sobrando e estragaram tudo. Entre eles um arquivo de um canto de pássaro repetido, que foi usado numa cena num lago, um som de arquivo que já foi muito aplicado por aí afora (eu mesmo já ouvi ele num arquivo de protools), enfim, o tipo de detalhe que passa batido, mas estragou tudo, pois os caras tinham condições de criar algo, ou usar de forma mais sutil um arquivo cliché desses. Os diálogos estavam com alguns defeitos no som de fundo também, com cortes sujos, logo no início do filme dá pra ver que houve uma "limpeza" grosseira do áudio das cenas, tirando sons entre falas - uma prática de iniciantes.

A montagem do filme prejudicou muito os atores, houve um momento extremamente e especialmente grosseiro, onde cortaram e costuraram uma fala colocando o ator Mark Ruffalo de costas falando algumas palavras com um tom completamente desconexo com o resto.

No fim o que todos esses pequenos (ou grandes) problemas culminaram foi numa fraqueza estética e uma fraqueza de conjuntura, uma falta de unidade no filme. Faltou estilo, faltou uma personalidade. Ficou com cara de filme de açougue, que se faz industrialmente, um atrás do outro, como uma mercadoria.

Enfim, falta originalidade, falta humanidade. É um produto industrial, pode ser até considerado de boa qualidade, mas não deixa de ser um produto industrial, um insumo. Sem conceito, sem arte, cheio de fórmulas.

Um comentário:

Felipe Fonseca disse...

Putz, Pacheco. Eu também não concordo com sua resenha! hehehe

Dê uma lida nessa outra crítica, que detalha muito melhor tudo que eu gostei no filme:

http://bit.ly/cCVu6h