terça-feira, junho 16, 2009

Cigarro

Sou alérgico a cigarro e tenho asma. Desde criança detesto que fumem perto de mim, porém nunca respeitaram essa minha decisão, tendo sido obrigado a suportar cigarro dentro de automóveis fechados, em casa, e até quando minha mãe estava grávida de mim. Com 5 anos, aproximadamente, cheguei a ter problemas por esconder o cigarro dos meus pais.

Quando surgiu o fumódromo, imediatamente pensei: uma primeira vitória - parecia algo bom.

Porém eu havia esquecido que meu pai, minha mãe, minhas avós e avôs, eram todos fumantes inveterados (meu pai chegava a fumar 5 maços por dia). Futuramente meus dois irmãos viriam fumar também (assim como quase todos os meus amigos).
Então, toda vez que eu saía para jantar fora, ou qualquer coisa que o valha, era obrigado a sentar na área de fumantes - novamente não tendo minha opinião e decisão respeitada: eu sempre fui minoria. E o que parecia uma vitória se transformou numa amarga derrota, até pior do que antes, pois a partir deste momento eu passei a frequentar lugares onde só tinham fumantes, onde estavam concentrados e dispostos a fumar até durante a minha refeição.

Em seguida, quando mais velho, não deixei de sair com meus pais e nem meus irmãos, e eles nunca respeitaram minha vontade de ter meu jantar livre de cigarro - fumantes, em geral, não costumam respeitar não fumantes, simplesmente desrespeitam como se fosse a coisa mais normal do mundo invadir a liberdade do outro que não quer se intoxicar. E ainda jogam suas imundas bitucas no chão como se fossem biodegradáveis.

Mais problemas tive quando comecei a ter uma vida social noturna. Tive que abandonar muitas festas antes da hora, deixei de conhecer muitas pessoas, pois a fumaça do ambiente não me permitia a permanência. E se fuma em todas as casas noturnas - sendo abertas ou fechadas e abafadas - não faz diferença, o fumante acende seu cigarro sem se importar com nada. E não há outra opção - quando o não fumante poderia procurar um lugar onde não se fuma, este lugar não existe. E se existisse amigos não iriam comigo, eu seria obrigado a ter apenas amigos não fumantes.

Apesar desta extrema exposição ao cigarro, durante muitos anos (quase 3 décadas), nunca consegui me acostumar, nunca deixei de passar mal com a fumaça. De nenhuma forma o problema amenizou.

Enfim, a minha qualidade de vida foi extremamente prejudicada em função do cigarro. Perdi muita coisa valiosa em minha vida por isso. Estragou momentos, companhias, jantares e tornou muita coisa que deveria ser boa em insuportável. Eu me sinto no direito de processar as empresas fabricantes de cigarro por conta dessa destruição de parte da minha vida.

Agora há uma lei que é uma esperança. É algo que sempre esperei, e que sempre achei necessário.
E é claro que a indústria de cigarro está tentando de todas as formas impedir que a lei entre em vigor: não há forma mais eficiente de se difundir o fumo que obrigando as pessoas a conviverem com a fumaça em ambientes fechados. Essas pessoas se viciam pelo cigarro dos outros, e passam também a fumar. Alguns passam a fumar para poder suportar estes ambientes.


Nota: achei engraçado ler em outro blog um post criticando a lei, dizendo algo como "até em teatros, quando se fuma em cena, será proibido..." - dizendo que isso é um absurdo. Que use cigarro cênico, que use a criatividade para superar isso. Por acaso as balas dos revólveres cênicos também são reais? As facadas encenadas perfuram realmente? As porradas? (bom, algumas porradas cênicas são reais mesmo...). Tenha a santa paciência.

2 comentários:

Luísa Scheid disse...

sobre o "cigarro cênico" , tem uma lei que permite o "fumo" se for parte da encenação !

Otávio Pacheco disse...

É, na verdade foi uma alteração na lei original, posterior à minha postagem. Faz sentido, mas não acho que seja essencial.