sexta-feira, novembro 17, 2006

longe

longe

longe.

longe, longe, longe.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Chegou uma ordem em que a vida é um tempo...

E esse tempo que tenta escapar
Pelas frestas dos dedos
Pelas entrelinhas
Pelas palavras omitidas
Alegria de mentira.

Que venha o verào...

E esse verso de pedra
Que escrevo agora
Só descrevo a aurora
O fim destas horas.

Aurora desses dias que não passam mais.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Tens medo?

O perigo é esta esquina,
Esta curva,
Esta Lua...

O perigo é o amor,
Esta flor de ruína.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Nunca

Te vi chorar desconsoladamente,
Demoradamente, uma noite sem parar,
No dia em que eu parti
Voltei pra minha terra
De onde não voltei mais.

Chorava como se fosse aquela a última vez,
Que me via sobre este mundo,
Que me tocava pra nunca mais,
Chorava
E nunca, nunca mais.

domingo, outubro 15, 2006

Hoje é ontem, é amanhã.

Há alguma coisa mudando?
Está mudando pra melhor?
E esse sabor amargo na boca...
Esse desapontamento?
E isso que te desagrada?
Esse gosto amargo na boca.

Esse céu cinza amanhecendo,
Manhã, que vai ser a mesma amanhã,
E esse hoje que agora é ontem,
Hoje que está nascendo, e que está passando,
Hoje é ontem, hoje é amanhã.
Hoje foi, hoje vai ser.
Que seja. Dá no mesmo.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Voa

Então voa,
Pegue o céu todo pra você,
Vá pra longe, pra outro continente,
Sem contingente.

Porque eu vim aqui sem nada,
Volto sem nada,
Não vim pra levar nada,
E o passarinho voa,
E vai tomar os céus
Que pertencem a ele e a ninguém.

Então voa,
Toque o fim do céu,
E depois desapareça,
Como deveria ser se fosse simples asssim.

segunda-feira, setembro 18, 2006

E ela foi embora assim,
Deixando a porta aberta,
Naquela rua, naquele fim,
Naquela vida deserta.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Sem mais...

Te odeio porque te adoro,
Te amo mas te engano,
Te quero mas não te espero.

Your move, shadow.

Que vontade irresistível,
Incrível,
De me atirar da sacada do meu quarto.

Aquela vontade que não passa tão fácil.
Antes fosse fácil falar tchau pra você,
Assim como é fácil terminar qualquer coisa.

Antes fosse fácil desistir de desistir,
Mas não quando se desiste nunca.

Desisto.
Ainda bem.

Desistindo não me atiro.
Melhor assim.

Leve adiante pra mim,
Tudo aquilo assim.

Basta.

Bastam palavras.

Twice.
Once.
Lots of times,
Your move!
Shadow.

terça-feira, agosto 29, 2006

Aflição egocêntrica

Ah que me enoja meu lirismo mal destilado,
Palavras mal colocadas,
Sentenças mal acabadas...

Esse cheiro de lavanda misturado com desodorante,
Esse gosto de laxante com chocolate,
Minhas unhas curtas arranhando a pedra.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Passaporte infinito

Não se sabe o que sinto,
Tão sucinto o exagero,
Tão enfermo este termo,
Ermo.

Antes fuíste lo que sientes,
Siempre intente lo que ..
Ya no sé el español.
No lo creo, ni lo penso.

Adelante del río siempre llevan los hombres,
Cuando sale el

quarta-feira, julho 05, 2006

Sintaxe dissonante.

Estive cansado destes pesadelos,
Essas canções tristes,
Que não param de tocar,
E que tocam,
E sua voz distante, que já não ouço,
Que já não sei,
Que já nem lembro,
Porque já se foi há tempos
E tempos inteiros cobriram o passado,
Montanha de momentos tornando-se esquecimentos,
Debaixo destes cimentos.

Estive cansado de não saber,
Esse tempo todo,
Essa vida toda,
E cansado de saudade,
E cansado de sentir falta de tudo, de nada.

domingo, junho 04, 2006

Para doer

É preciso mais que amor.
Vontade de sentir o sabor,
De te doer,
Como me doeu,
Quando me feriste,
Tanta dor que existe.

Mas você insiste em não sentir dor.

quarta-feira, maio 31, 2006

Silêncio

Tu me pedes uma certeza,
Sou feito de dúvidas.

Minha alma pende em esperança
De um dia saber alguma coisa,
Agora a alma apenas dança
Num ritmo inconstante, a dissonância.

Tu me pedes uma resposta,
Só tenho perguntas.

segunda-feira, maio 29, 2006

Longe de casa

Fossem mil, dez mil, um milhão de quilometros longe.
Fosse a lua minha moradia,
Pra nunca mais ter que encontrar a mim mesmo,
Pra nunca mais acordar e olhar prum espelho e ver eu mesmo,
Fossem 15 milhões, 1 bilhão, 1 trilhão de quilometros,
Bem longe.
Longe de tudo, longe de mim mesmo. Sozinho, em silêncio.

sábado, maio 06, 2006

Manual

Esqueceram-se
Ninguém foi capaz de lembrar.
Esse tal, que fez, que quis, que inventou tudo isso.
Esse que não existe.

E aí, no meio do caminho, quando já não dá pra voltar atrás,
Dou falta do manual.
Onde está o manual?
Onde o guardei?

Aí me lembro que nem lembro de ter ele em minhas mãos,
Nunca.
Não me lembro desse manual em minhas mãos.
Será que há?

Seguramente não.
Sem instrução de uso.
Sem mapa de bordo.
Sem opção de fuga.
Sem manual de instruções.

domingo, abril 30, 2006

Desperto

Tive um sonho muito estranho essa noite...
Daqueles que a gente acorda chorando.
Daqueles sonhos em que tudo era diferente. Que tudo era o que foi um dia, e que já não é mais e nem vai ser de novo.
Daqueles que a gente acorda chorando, mas não porque o sonho era triste.
Daqueles que a gente acorda chorando porque percebeu que era um sonho.

Daqueles sonhos de saudade. Como quando morreu alguém.

Foi um sonho lindo.
Mas era só um sonho.
Ela estava comigo num refeitório. Ao meu lado.
Conversávamos. Eramos amigos.

Ela era minha amiga.
E conversávamos.
Estávamos num lugar onde o tempo comeu. Um lugar que não é, nem foi, nem será.
Era um sonho. Apenas um sonho.
Desses que a gente sabe que é só um sonho,
Que a gente acorda triste,
Mas não porque era um sonho triste,
Mas porque era só um sonho.
Que não volta mais.

E aí é quando a saudade dói.

sábado, abril 15, 2006

Labirinto.

Longo e dissonante labirinto.
Distante de qualquer entrada,
Estou próximo ao nada.
Ela, paralisada.

Calabouço de idéias contorcidas.
Idéias corrompidas.
Fúria da vontade inconclusa, a vontade insaciada.
Ela, o labirinto em fúria.

Lento e asfixiante,
Desesperador labirinto.
Ela.
Instintos dissonantes,
Incompatibilidades desastrosas.

Longo e lento labirinto.
Palavras vazias preenchendo o vício.
Como odiar você?
Odiar a mim mesmo é mais fácil.
Deveria errar pelo labirinto,
Deveria errar pelo abstrato,
Até o infinito.

Longo e lento labirinto.
Até quando espero?
Até que se caia o fim do mundo.
Não sei onde está o fundo, mas não está longe.
Queria estar eu longe.
Queria ter controle sobre todas essas pequenas coisas,
Queria ter ao menos controle sobre mim mesmo.
Sintaxe distorcida,
E sua semântica absurda, que me fere,
Suas palavras são uma facada em meu peito.

sábado, abril 01, 2006

Mais rapido

- Você é mais que uma estrela.
- O que sou? Uma estrela que caiu do céu? Que triste.
- Claro que não.
- Com razão me sinto incômoda, porque minha vida, meu mundo, está com as estrelas.
- Eu tampouco me sinto cômodo.
- Será você também uma estrela?
- Sou de outro mundo.
- De que mundo? Fecho os olhos e te imagino com sua taça de vinho, sentado na frente do computador.
- Sim?
- Que agradável imagem.
- Porque?
- Pra mim é fácil te imaginar na penumbra, na frente do computador.
- Com a minha cara triste?
- Sim.
- Tenho uma cara triste.
- Por que você está triste?
- Porque meu olhar é triste.
- Seu olhar não era triste quando te conheci.
- Não.
- Você bebeu muito, já?
- Não.
- Você não me conheceu triste. Eu estava eufórico quando te conheci.
- Sim, me lembro de você assim.
- Não importa... Não sei muito bem o que estou dizendo...

domingo, março 26, 2006

Essa noite.

Silêncio na cidade
Só o som da chuva
Que chia sob nossos olhos.

Sentada na janela ela olha o vento
As gotas chovendo lá do céú.
Seu corpo esguio apoiado sobre o parapeito do terraço
O cabelo jogado atrás do ombro. Cabelo longo e loiro.
Olhando o movimento desta noite silenciosa, enquanto a escrevo aqui.

Ela diz:
...o quê você está escrevendo?
Eu tomo um gole do vinho. Um vinho argentino (Benjamin Nieto) comprado no Brasil.
...escrevendo. Nada.

sexta-feira, março 24, 2006

Pastiche

Emplastro de idéias
Encargo de misérias
Tudo o que é
Isso que sou
Singularmente demente
Podre e empoeirado
Como uma inútil pilha de livros
Na cabeceira de quem nunca lê.
Porque ninguém lê,
Ninguém quer.

E se quisesse alguém
Como poderia eu saciar essa vontade,
Se não tenho nada a dizer,
Eu, esse covarde?

Se tivesse algo para dizer me calaria,
Seria mais sensato,
Não escreveria.

quarta-feira, março 22, 2006

Meu filho

Adormeci no sofá da sala com a Tv ligada. Despertei com o barulho da porta sendo aberta. Silvia entrou e me viu, ficou parada alguns momentos olhando para minha cara com uma expressão absurda no rosto. Começou a chorar copiosamente, bateu a porta com violência e se aproximou de mim.
Pensei que fosse me abraçar.
Me cuspiu na cara e me deu um tapa.
Saiu da sala e voltou com um envelope.
Me expulsou de casa e trancou a porta. Havia um bilhete dentro do envelope.

"Seu filho morto,

você sumiu uma semana antes de confirmada minha gravidez. Te escrevi todos os dias, liguei para seu celular até desentupir a privada e descubrir que ele que a estava entupindo. Chamei a polícia, procurei a mídia. Gastei uns dois anos te procurando. Agora que já não tenho mais esperanças escrevo isso para desbafar. Se um dia você aparecer de novo te dou esta carta pra ler.

Sua mãe morreu. Ela ficou dois meses no hospital, isso foi um ano depois que você sumiu.
Seu filho nasceu lindo. 4 kilos, um bebê saudável, olhos verdes, quase sem cabelo. Sorridente.
Seu filho morreu 4 anos depois que você sumiu. Ele já estava falando, vivia perguntando do pai.
Morreu asfixiado com um pedaço de carne entalado na garganta."

domingo, março 12, 2006

Casa Vazia

Entrei em casa. Me surprendeu os móveis ainda estarem nos mesmos lugares. Quando muito havia mudado alguma planta. Na cozinha um fogão novo, o antigo mal servia para esquentar a água. Passei pelos corredores, abrí a geladeira, que estava quase vazia. Em meu quarto havia roupas de mulher jogadas no chão, uma garrafa de Uísque pela metade, uma taça com restos de vinho. Cinzas de cigarro e um sutiã. No banheiro as habituais calcinhas penduradas nas torneiras, que costumavam incomodar quando abria torneiras, mas que agora quase me comoviam. Minhas lembranças tinham sabor amargo.

Foi doloroso ver a casa tomada por toda essa vida sem mim. Doía perceber a vida alheia continuando o seu deslizar no tempo. Ver o seu desgaste, e ver que tudo estava velho e empoeirado. E que essa que era antes a minha casa já não tinha nada de mim.

Era muito dolorosa também a ausência de qualquer coisa que fosse, para me receber. Queria que tivesse alguém me esperando, alguém que ainda estivesse preocupado com meu sumiço repentino.
Parti sem deixar bilhete de despedida, sem dizer nada, nem um breve "tchau, estou indo, um dia volto".

Não, nada. Parti sem dizer adeus e depois de cinco anos tudo já tinha voltado ao normal. Ou melhor, ao normal não, mas tudo, de uma forma ou de outra, seguia adiante. O vazio de minha ausência já tinha sido preenchido pela esperança de que eu estivesse morto, e pela falta de esperança de que eu ainda estivesse vivo. Ninguém mais esperava nada. Não havia nem um bilhete, para caso eu chegasse assim, sem aviso, em um dia qualquer. Enfim, numa segunda-feira, no meio da tarde.

Sentei no sofá e liguei a TV. Era estranho ouvir de novo esse português, esse tradicional apresentador de programa de futilidades, que fala de nada, que fala de gente que eu nem mais sei quem é. Novas celebridades. De repente entrevistam um grande desconhecido, e eu via todas aquelas pessoas na platéia gritando quando ele entrou no palco. E tudo que me era tão familiar já me havia escapado, e tampouco tinha sido familiar minha vida nesse intervalo até aqui. Familiaridade era uma coisa que já não conhecia mais, e foi o que me fez voltar. Não existe mais nada que seja familiar para alguém que deixou de existir por cinco anos.

Voltei para retomar minhas raízes que sem pensar eu abandonei há cinco anos. Minhas raízes que me conheciam mais que eu mesmo conhecia a mim, minhas raízes que me alimentavam de calma e previsibilidade, tudo que eu odiava quando parti e tudo o que eu amo agora. Sempre fui uma árvore grande e velha, cheia de imensas raízes, mas de uma hora pra outra me pegou uma sensação de que me faltava alguma coisa. Então decidi partir antes que me convencessem a ficar.

Não sei o que ocorreu neste lapso, não sei quem chorou, não sei quem sorriu. Imagino que a muitos deve ter doído, imagino um grande alvoroço, a polícia, apelos à imprensa, muito dinheiro jogado fora. Tudo por um simples capricho meu, por minha triste condição egoísta. E depois, quanto mais tempo passava menos vontade e coragem eu tinha para ligar e dizer que estava bem, para ligar e avisar que estava vivo e que era por minha vontade que não voltaria. Tinha medo também que a voz que me ouvisse também falasse alguma coisa que me convencesse a voltar. Tinha medo de ouvir choro, de ouvir grito, de ver como as pessoas que dependiam de mim estavam sofrendo, e saber que sofriam os que eu amava. E que me amavam, e que agora me odeiam.

.

sexta-feira, março 10, 2006

Dias amontoados

Como é fácil sonhar
Esses versos míseros e mesquinhos
Cruzando a distância de uma janela,
Rápido como começou
Acabou e sumiu.

Esses dias amontoados
Sem glória e sem passado
Somando-se aos montes do tempo.

Me lembro do ano passado
Dentro daquele quarto
Meus olhos vendados
Tocando o desconhecido,
Do outro lado da janela.

Essa vida acumulada
Nas estradas, sobre o asfalto,
Correndo do mundo e do medo.

Escrevo uma carta eterna
Que nunca será mandada.
Escrevo dia e noite
Todas as palavras para o nada.

Poesia esturricada

O vazio
O olvido
O eco
Em meu ouvido.

Sob o sol do meio dia,
Esturricando a poesia,
Dilacerantes sonhos traçavam caminhos
Que levavam embora o que fora outrora,
A criança esperançosa e otimista
Cheia de planos para um futuro
Que não passou mas ficou no passado.

O eco de antigas cantigas,
Que não se canta mais nesta roda,
Refletia outro mundo lá fora
E aqui dentro eu invento um outro
Que me leva adiante
Um semblante de louco.

quarta-feira, março 08, 2006

Cismas insones

Flertando com as possibilidades infinitas
Infinito intangível, lindamente incompreensível,
Passando em nossos olhos todo o tempo e o tempo todo.

Quando será o fim do tempo?
O meu tempo hå de acabar, mas acabará em si o tempo?
Uma pergunta tão distante para uma noite insone,
Quando este acabar já tera escoado a ampulheta de minha vida, de minha memória e das minhas coisas.
Mas e se o tempo acabar amanhã?
O fim do tempo, não da matéria.

E será que tudo tem seu tempo?
Como uma receita de bolo:
Se você abre o forno antes da hora o bolo murcha e perde sabor,
Se você deixa ele tempo demais ele queima, começando pelo fundo. Pelos pés.
E como vou saber qual é o tempo certo,
Se a vida não tem receita?

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Burocracia

Formulários, autorizações, regulamentos, regras,
Taxas... taxas... taxas... milhares de taxas,
Impostos, atrasos e espera.
Espera.
Espera.
Agora esperar mais um mês e meio...

Um mês e meio a mais é um mês e meio a menos.
Só quero terminar o meu filme,
Falta pouco depois de tanto.

De novo no início... reunião.
Nova reunião, novas definições, nova estratégia...
Marcelo (produtor): " - Espera, deixa eu dar um grito... AAAAAAAAAHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!"

Esperar e esperar, mais um mês e meio... que pode ser mais de um mês...
Minha vida era tão mais fácil quando tinha um, apenas um objetivo...
Agora minha vida é mais emocionante, tão emocionante que vou morrer do coração.

Formulários, autorizações, regulamentos, regras,
Taxas... taxas... taxas... milhares de taxas.
...falta pouco, espero que não seja muito esse pouco.
Por enquanto o "Rascunho de Pássaro" continua apenas sendo um rascunho, filmado pela metade... mais da metade.

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(foto por Rubão - www.registrodaluz.com.br)

Ventania

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O vento varreu a cidade, levando embora o que era leve.
Evaporei.
Diluído seu olhar na minha lembrança, quase esquecido até,
Longe desta dança,
Dança fúnebre,
Repousam seus olhos em outro
Em outra coisa, outra vida.

Longo como a noite no inverno polar
Meu mundo se desconstrói e volta a ser ruína
Novamente zero como quando quero o que não existe nem resiste como um desejo a ser desejado
Quando desejo o impossível, infinito.
Porque sou, no fundo, uma criança mimada, um fingidor, mentiroso e fútil, como as flores amputadas que um homem dá a uma mulher para se desculpar da mágoa causada por um capricho.
Sou um grão de areia no deserto,
Sou uma sombra na noite sem lua nem luzes,
Um nada no meio de tudo,
Uma gota de água no mar que o sol evaporou para chover de novo,
E de novo,
E de novo.
Como vem chovendo nos últimos bilhões de anos da eternidade.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Eco.

E me foge a inspiração como um cão medroso,
Com o rabo entre as pernas,
A perder de vista no áspero horizonte, muralha de prédios.

De longe ouço seus latidos, que ecoam nos becos infinitos desta cidade monstruosa,
Essa cidade que parece um abismo.

domingo, fevereiro 19, 2006

Forasteiro

Dentro de sua própria pátria forasteiro.
Medo dentro de seu meio
Ele olha ao seu lado e não reconhece o outro
E o outro
E outro.

No centro de sua vida tudo remonta
Ao capítulo inicial.
Onde alvo e magro apareceu
De dentro das entranhas de sua mãe
Seus irmãos ciumentos,
Com seu amor de medo
Comedido ante o seio
Que dividido era de todos,
Lhe receberam de braços abertos com o passar dos anos.

sábado, fevereiro 18, 2006

Nunca

Nunca
Ou sempre,
Agora.

E com essas palavras de bêbado sigo adiante,
Escrevendo até doer,
E quando a dor chegar, me viro, me deito,
Durmo profundo,
Sonhando com palavras,
Meu delírio abstrato.

Encerrado em palavras,
Enquanto lá fora existe uma vida,
Enquanto lá fora o sol brilha,
O mato é verde,
O ar é fresco.

Encerrado em delírios,
Enquanto amanhã já passou e foi ontem,
E a saudade que sinto é de um dia que sentia saudade de algo que não conheci,
A saudade que tenho é a saudade de hoje,
O dia que nem acabou mas já faz me lembrar
Que o tempo era bom.

Encerrado em dilúvios
Observo do altar
A cidade em chamas
O avanço do mar.

Mais uma noite.

Mais uma noite tentando escrever aquele poema,
Mais uma noite tentando encontrar aquele poema,
Aquela montanha,
O imprevisto,
O impossivel.

Mais uma noite procurando a montanha,
Mais noites perdidas da infancia,
Aquele emblema,
Aquele poema.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Delírium

Sabe-se lá o que será que seria se fosse ao fundo
Se fosse longe
Se fosse um fato.

Se tivesse um poema pronto
Para escrever de pronto pra ela

Ela que não sei se lê
Que nem imagino
Que nem insisto
Apesar de querer
E sonhar
Este absurdo.

Se eu tivesse este poema
Tampouco poria ele aqui
Porque já estaria pronto
Pré-fabricado
Ao ponto.

Prefiro Mal passado
Recém tirado do forno
Inacabado
Mal executado.

Mal executado como este poema desleixado
Que dedico a ela,
A você, se é que me lê.
Estas parcas palavras.
Eu que nem te conheço.

Este poema inacabado,
Mal executado.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Minha

Ah, se essa música fosse minha
Mudaria todas as rimas
O sentimento de incerteza,
De tristeza, de escuridão,
Mas ela é feita do acaso,
Me desfaço em compassos
Neste tempo absurdo da canção.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Resumo

Fui louco,
Fui profeta,
Fui ladrão,
Fui poeta.

Agora não sou nada,
Quando muito
Sou pouco.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Palavras

Gostaria de escrever alguma coisas sobre as palavras,
Mas me faltam palavras.
Gostaria de dizer alguma coisa para mim mesmo,
E para quem me ler,
Mas me faltam palavras.
E se me faltam palavras como vou falar de palavras
E se as palavras que faltam
Faltam porque não eram palavras e sim sentimentos
E sentimentos não são palavras,
Sentimentos... que são sentimentos?
Eu não sei, eu sinto.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Em busca do horizonte.

Não quero parar nunca,
A vida pode parecer um sonho,
A vida pode parecer um pesadelo,
Vou seguir em frente,
Em busca do horizonte,
Em busca da fonte.

O que quero posso nunca conseguir,
Sei que nunca vou estar satisfeito,
Não há materia, amor ou vício,
Não há nada que baste,
Não há nada que acabe com o querer,
Sou um ser humano,
Com sede de tudo,
Com tempo pra pouco,
Existem mil livros que não vou ler,
Existem mil filmes que não vou ver,
Existem mil palavras e não escrevo,
Existem mil coisas que não esqueço,
Sei que não vou parar,
E que nunca é tarde,
E que nunca é cedo.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

carcaça

Aqui nossas vidas se separam,
Eu sou a carne e você é a caça,
E como ramos de uma árvore morta
Eu sigo cego e seco prum fogo
Que alimenta minha estranha tristeza,
E me consome até que você me esqueça.

Já se passou mais um dia,
Atravessei mais uma noite,
Sem ouvir sua voz,
Sem sentir o seu cheiro,
Sem tocar seu olhar
E sem beijar o seu beijo.

Aqui a minha vida se divide
Eu sou a vontade e você é a graça,
E como fotos que aos poucos se apagam
Me despeço disperso e sem mágoas,
Do meu corpo resta apenas o esboço,
Da minha alma um caricato rascunho.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Vazia Jornada

Quando eu me for
E o silêncio me abraçar
Quero que o mundo me esqueça,
Me apague da Terra,
Me deixe voltar
Ao que antes eu era.

Quando eu me for
Se alguém sentir minha falta,
Não quero frases
Nem homenagens,
Não quero lágrimas
Nem piedades.

Quando eu me for
Não quero nenhuma flor,
Não quero ser enterrado,
Em uma caixa trancado,
Eu quero ser libertado,
Quero ser esquartejado.

Não quero lapide,
Nem rosas decepadas,
Nem quero noites veladas,
Eu quero o nada,
Vazia jornada.

Que desça do céu azul
Um grande e imponente urubu,
Devore as minhas entranhas
E voe até as montanhas,
Deixe a minha carcaça
Sozinha no meio da praça.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Srta. Metafisica

Las palabras, las instancias,
Mi pregunta,
Tu distancia.
El miedo de lo desconocido,
Miedo de un raro camino.

Para que tu me oigas
En tu lejanía
No me basta el grito,
Ni siquiera el llanto,
Más se parece con juego
Las palabras que encantan
Y la encendida curiosidad
Me encierra en silencio.

No sé si existe de hecho,
No sé porque quiero oírte,
No tengo mas miedo de nada,
Ni tengo miedo de nadie.
Sólo quiero oír,
Sólo por un instante,
Un corto momento.
Sólo quiero el sueño,
Sin miedo del miedo que tengas,
Sin miedo de nada,
Sin miedo de nunca,
Sólo quiero el sueño.

Cambiar metafísica en física,
Sin hesitar.
Cansado de fantasía,
Cansado de máscara,
Estoy acá encerrado,
Más allá del deseo y del acto,
Sin olvidar.




16 de Dezembro de 2004

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Meio Bossa nova e Rock'n roll

Tomaria uma cerveja com você
E choraria as mazelas da vida,
Como foi cruel comigo
E como foi com você,
Meu amigo,
Essa vida

Assim assim,
Meio Bossa nova e Rock'n roll

E todas as dores que me culpa,
E todos os horrores do amor,
E tudo o que não foi,
E tudo o que poderia ter sido.
Enfim,
Valeu a pena
E mesmo com tantas dores
Também existem cores.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Lisérgia

,

















.


Duas gotas de insânia
São o suficiente,
Me levam pra Lisérgia,
Belo país no Oriente.

Lisérgia dos loucos varridos,
A terra dos questionamentos,
A água dos contentamentos,
A erva dos fortes fluídos.

Me perco sem nem movimento,
Longos dias passados ao vento,
No moinho da perda de tempo.

Descanso do eterno descaso
Da criança que nunca se encanta,
Onde o velho é novo de novo.

Minha Janela

Do mal em ver a cidade se contorcendo dia após noite.

" - No quarto, ao lado da cama, preso num pequeno espaço, sem opção de fuga. Nesta jaula, não posso tocar meu violão, não posso falar alto, não posso rir nem chorar. Tenho apenas minha janela.
Ruídos temperados de imagens isoladas, que ecoam na aspereza dos alarmes, sirenes, cercas elétricas, cacos de vidro, paredes blindadas, espingarda, concreto e asfalto.
Só tenho minha janela. Contemplando-a passo meus momentos de inspiração. Por isso escrevo de forma doentia, por isso não tenho leveza,
Como a leveza da criatura da noite, que flutua acordada pela madrugada.
Minha prisão,
Meu lamento.

Qual é este lamento
Que por anos sustento?
Quais questões me pertencem?

O quê justifica o sangue que escorre na esquina?"

Neste momento ele levanta seu corpo estático e contempla a vista novamente. Ouve ecoar nas paredes dos edifícios o som de um morcego que desloca-se pelas ruas e avenidas da cidade.

O sanguessuga plana sobre teu dormitório,
Ele acorda nesta noite refrescante de verão,
Irrompe no monumento de pedras, a colméia,
Sedento.
Suas entranhas imploram por sangue. Sangue morno.
Ele voa sobre o emaranhado do sistema.
Sua sede não é saciada com pouco,
É uma luta contínua de vida,
Noite após dia,
Tenta sugar o mais denso leite vermelho,
O mais amargo,
O mais promíscuo,
O MAIS VIL!

Voamos juntos,
Percorremos os mais escuros becos,
Conhecemos o antro mais sujo da cidade,
A saída do esgoto,
A moradia dos ratos prometidos,
Engordando e mutiplicando-se para a noite apocalíptica, no dia de ser a praga.

Somos uma parte necrosada da imensa criatura.
Nós somos apenas um fardo em seu crescimento.
Somos o câncer desta imensa massa disforme.

" - Que tortos caminhos me carregam?
(Pra onde vou, assim com pressa?)
(Pra onde vai toda essa pressa?)

Só espero mais um dia acabar,
Só espero o pôr do sol,
O descanso da alma,
Uma noite de sonhos.
Para em seguida outro dia nascer, assim sucessivamente.
Imploro por um pequeno sonho."

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Noite dos vencidos

Sombria e pálida impertinência
De sonhar em vão tal breve ausência,
De dentro do profundo inferno
Gemendo um defunto eterno
Explica-me a coincidência,
Eu peco a entender o mundo,
Eu perco todo o conteúdo,
Ao crer que tudo gira em torno
Do centro do meu podre umbigo.

Eu sinto que o padre eterno
A crer que vivo no inverno,
Dirá para cubrir meu corpo,
" - Esconda agora o seu pecado!"

Na noite dos vencidos sonharei contigo,
Não terei mais minha janela,
Não terei mais meu abrigo.
Na noite dos vencidos tentarei dormir,
Mas sei que não consigo,
Sei que então desperto
Estarei tão certo
Que o mal é antigo.

Então desperto
Deceparei a rosa do deserto,
Que cresce num cactus,
Em meio a espinhos,
Cercada de areia,
Sem água nem vinho,
Na última ceia.